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Estou apaixonada

Por Lira Alli

No centenário de nascimento do educador Paulo Freire, professora declara seu amor pelo educaraprender e chama seus pares a participar da organização sindical.



paulo freire faz cem anos e eu estou apaixonada.

ele faz cem anos porque é daqueles preciosos filhos do povo brasileiro que viraram ideia e por isso seguem presentes, presente. presente!

e eu apaixonada porque encontrei um lugar (feito de pessoas) no qual é possível esperançar outro futuro e outra educação pública.

esperançar que paulo nos ensinou, não é coisa de gente que espera. mas gente que faz a hora acontecer.


o sindicato é o instrumento de organização e auto defesa da classe trabalhadora. o sindicato da classe trabalhadora do serviço público defende duas vezes a classe, pois quando defende seus próprios direitos trabalhistas está defendendo o direito à política pública de toda a classe trabalhadora e de todo o povo brasileiro.

andei muito descrente da esquerda tradicional, seus partidos, organizações e sindicatos que parecem ficaram presos à pior parte das tradições e reproduzem internamente violências, personalismos, paternalismos e uma série de outros vícios que prejudicam o trabalho coletivo.


mas encontrei um lugar em que eu sinto ser possível tecer meus sonhos e meus delírios em coletivo. um lugar em que há, fundamentalmente e acima de tudo, escuta.

e que coisa mais freiriana poderíamos fazer se não um congresso sindical recheado de escuta, arte, poesia e encanto?

e justamente por isso com espaço para a dor, as dificuldades, o erro, o choro. é que pra ser verdadeiro é preciso admitir que ninguém está muito bem, que as coisas não estão fáceis.


e assim nos encontrarmos na força coletiva. ubuntu na prática. ousar transformar os ritos sindicais. inventar uma carta poética como documento deliberado em plenária coletiva. ir matutando e convidando trabalhadoras e trabalhadores de todos os cantos da cidade a sonharem junto.


poder ser criança. poder amar e falar de revolução. ousar transformar as próprias práticas desde já. como não me apaixonar?


ao @sindsepsp e à todas as pessoas que participam dessa construção (cada um com seu jeitinho, à sua maneira) minhas gracias mais profundas. em meio à essa noite longa eu já posso ver os primeiros raios da aurora despontar.


Leia a seguir trechos da resolução final do IX Congresso da Educação do Sindsep:


Carta às trabalhadoras e trabalhadores da Rede de Educação Municipal da cidade de São Paulo.

Colegas trabalhadoras e trabalhadores da Educação Municipal,

Durante os dias 15, 16 e 17 de Setembro, na semana no centenário de vida de Paulo Freire, o Sindsep realizou seu IX Congresso da Educação. Foram três dias de diálogos profundos, intensos e emocionantes. Essa carta traz aqui apenas uma (das muitas possíveis) costuras entre o que aconteceu, com o objetivo de compartilhar um pouco o que vivemos, e fazer um convite à esperançar.

Vivemos em uma realidade que parece impossível suportar. Ninguém aguenta mais. A pandemia, o desgoverno, o desmonte das políticas públicas. Enfrentamos uma máquina de moer gente, que tenta destruir a força do povo brasileiro. Ser servidor(a) público nesses tempos é sentir-se permanentemente esmagado por um projeto político genocida. Preferem mais propina que vacina. Preferem mais morte e lucro que vida.

E nós, nadando contra a corrente, muitas vezes nos sentimos sós, tristes, fracos, desesperados, doentes. O projeto do poder se utiliza das ideologias individualistas, corporativistas e competitivas para nos jogar uns contra os outros e nos adoecer. Somos mais de 120 mil servidores/as públicos ativos apenas na cidade de São Paulo. Sem falar nos aposentados! Imagina a força que teríamos se estivéssemos todos, todas e todes juntos?

Sabemos que romper com isso não é tarefa simples. Por isso nos inspiramos nos melhores frutos de nosso povo. Paulo Freire é eterna criança em forma de ideia presente entre nós. Bebendo de sua pedagogia libertadora e de seu amor revolucionário, nós dialogamos. Dialogamos entre colegas e estudiosos para lembrar, na memória e no sonho, de uma Secretaria Municipal de Educação que já esteve disposta a escutar e trabalhar ao nosso lado, com respeito e palavra.

Contra a necropolítica atual, nossa luta é em defesa da vida, em toda sua boniteza e simplicidade. Essa luta é cotidiana e acontece no chão de cada unidade, em cada pátio, corredor, secretaria, sala de aula, quadra, biblioteca, cozinha, refeitório.

Somos classe trabalhadora. Independente de cargo ou função. Somos todos gente e não podemos cair na tentação violenta de nos acharmos melhores (ou piores) do que ninguém. Não podemos reproduzir invisibilizações. Se a prefeitura nos divide pagando salários profundamente desiguais, transformando em privilégios para alguns o que deveria ser direito de todos, a melhor resposta é nossa união. Em tempos de humanidade desumanizada é sempre bom lembrar: todos somos gente! Da criança com deficiência ao mais velho analfabeto. Do bebê mais vulnerável à trabalhadora, mãe, negra, lésbica, trans. Somos gente e queremos viver! Nem bala, nem fome, nem covid. Nem doenças de trabalho. Nem exoneração. Nem o desmonte das políticas públicas!

(...)

Queremos que a educação municipal se fortaleça. Que possa realizar toda sua potência e seus projetos. Mas para isso não podemos ser uma bolha. Entendemos que a educação é parte de uma rede complexa de serviços públicos e que existe em curso um projeto cruel de nos fragmentar. Não existe educação sem saúde, não existe educação sem assistência social. Não existe educação sem lazer, sem cultura, sem esportes, sem serviço funerário.

Só podemos fazer frente à esse terrível projeto com unidade. Uma unidade para reconstruir a esperança. Esperançar o futuro desde já lutando pelo direito à educação de qualidade.

E pra isso é preciso empatia, coerência, transparência e amor. Reconstruir a identidade do que é ser classe trabalhadora do serviço público. Disputar corações e mentes, em cada local de trabalho. Organizar as trabalhadoras e trabalhadores da educação articulando nossos territórios e com outros serviços públicos.

(...)

Nós somos o Sindsep! E para fortalecê-lo não basta votar em eleições e pagar a contribuição sindical. É necessário participar. Dialogar. Nos formar politicamente. Nos educar, aprender, ensinar e transformar.

Mais do que tudo, esse congresso foi um grande espaço educativo, no que isso tem de mais profundo. Saímos daqui transformadas/os, e essa carta é um convite para esperançar sindicalmente ao nosso lado.


Congressistas do IX Congresso dos(as) trabalhadores(as) da Educação Municipal – SINDSEP – SP

____________

Lira Alli é professora de Educação Artística no CEU Butantã.



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